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O Desafio de ser cristão numa cultura evangélica alienadora


 

 

 

 

Primeiro, temos um desafio ideológico. De não nos curvamos a ideologia neoliberal. Mesmo porque não anunciamos uma ideologia, mas uma utopia possível: O Reino de Deus. O Reino é um milagre histórico que Deus faz brotar das nossas mãos!

 

O protestantismo histórico por conta do seu espírito anti-católico tem preservado uma compreensão paupérrima quanto ao fenômeno da idolatria reduzindo-o as imagens dos santos adotados na religião católica. Não estou fazendo apologia as imagens, é idolatria também! Mas devemos abrir os nossos olhos para outros ídolos deste nosso tempo: A riqueza, o poder, o estado, o mercado, o sexo e a ideologia neoliberal.

 

Estamos inseridos numa sociedade pós-moderna que tem o neoliberalismo como ideologia norteadora. Essa ideologia neoliberal selvagem e sem regras, se impõe como um modelo de desenvolvimento radicalmente centrado sobre o secularismo, sobre a indiferença de Deus. Sendo assim, o neoliberalismo é a ideologia imperante neste momento no mundo e não é exagerado qualifica-la como uma nova religião: seu deus é o dinheiro, como único escopo de vida e de organização social. Uma nova religião que se autodoou seus mandamentos, em cujo vértice se põe a lei absoluta do mercado: “sem mercado não há salvação”. Ao querer constituir-se na realização plena das relações sociais, transformou-se numa ideologia tirana, ceifando a liberdade de bilhões de seres humanos, ao negar-lhes a possibilidade daquela vida em abundância de que falam os evangelhos.

 

 

 

Carlinhos Brown: “Quem trouxe a fome foi a geladeira”.

 

O eletrodoméstico impôs as famílias à necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvete etc. A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos.

 

Sócrates: filosofo grego que viveu séculos antes de Cristo, gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E assediado pelos vendedores respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que eu não preciso para ser Feliz”. Sugiro a vocês: façam passeios socráticos!

 

 

 

Segundo, temos um desafio identitárioDevemos recuperar a beleza e o significado da palavra Cristão. O termo evangélico sofreu um desgaste semântico e prático. Ser evangélico hoje, é sinônimo de estar na moda, ser chique, estar na mídia, ser celebridade. Deveríamos desejar apenas o título de servo inútil. Não porque não prestamos, mas como uma confissão da nossa incapacidade em retribuir a graça que recebemos. Embora não precisamos, pois quem pagou a nossa dívida fez por amor! Não podemos esquecer que somos cristãos protestantes. Que não aceitamos que nenhuma realidade ou estrutura histórica condicional arrogue para si as prerrogativas da incondicionalidade.

 

 

 

Por conseguinte, temos um desafio ético. De não barganharmos a nossa fé em troca de poder ou privilégios. Poder para nós deveria significar Servir e privilégio deveria significar a possibilidade de caminhar com Deus construindo a história!

 

Ainda a guisa de introdução, faz-se necessário examinar ligeiramente a pericope bíblica que pretendemos utilizar como fundamento objetivando a construção de uma reflexão lúcida e profunda.

 

A palavra mundo/século que aparece no versículo lido é palavra grega aioni, que designa uma época, um tempo. O apostolo não está falando do mundo enquanto estrutura criacional (Kosmos), mas de uma era, bem como tudo o que a envolve e caracteriza.

 

Daí o alerta do aposto Paulo (Tércio) aos Irmãos de Roma. Eles não deveriam se conformar com a secularização e influências que afetavam Roma, devido a inserção de diversas culturas na mesma.

 

Qual é a nossa época? Uns caracterizam como pós-modernidade. E o que é isso? Segundo Leonardo Boff, a pós-modernidade é o último e mais refinado travestimento da cultura capitalista com sua ideologia consumista.  Para ele, há no projeto pós-moderno, uma pobreza humanística e espiritual clamorosa, caracterizada no auge do consumismo individualístico e autofinalizado.

 

Essa é uma radiografia sumariada da nossa época, pois não mencionamos todas as características deste momento conturbado que vivemos.

 

A pergunta que urge neste momento é: qual a radiografia da nossa igreja e juventude neste aioni?

 

Qual a radiografia da nossa juventude neste aioni? Conforme o Pr. Wanderley Rangel Filho, Vivemos numa época relativista jovens sem convicções; pluralista sem referencial; superficialista jovens sem raízes; imediatista jovens sem estrutura; individualista jovens ensimesmados; cientificista jovens racionalistas; materialista jovens sem o ser só com o ter; pragmatista jovens sem moral; hedonista jovens sem liberdade; reducionista jovens sem respeito; alienada jovens sem reflexão.

 

 

 

1- Temos uma juventude religiosa no discurso, mas incrédula na prática.

 

 

 

A igreja evangélica brasileira é eminentemente jovem. O que nos espanta é que a igreja evangélica cresce, mas o Brasil não melhora!

 

 

 

2- Juventude conectada, mas imatura;

 

 

 

Embora sejamos uma juventude conectada e bem-informada, já que o mundo está a distância de uma tecla, também se trata, sob a ótica espiritual, de uma geração sem conhecimento bíblico, imatura e vulnerável a qualquer “novo vento de doutrina”. E doutrina nova é o que não falta! Parte desse desinteresse pelo estudo sistemático da palavra deve-se ao surgimento da geração gospel e do culto-show.

 

 

 

3- Juventude sarada e talentosa, mas cansada e indisponível.

 

 

 

Mesmo sendo uma geração-saúde, que adora corpos bem cuidados, a juventude exibe um cansaço crônico. Poucos são os que se envolvem efetivamente, com determinação e garra, no serviço a Deus. A maioria prefere um evangelho light!

 

E qual é a fotografia (a nossa igreja está mal na foto) da nossa igreja neste aioni (momento histórico)? Segundo, Carlos Caldas no seu Livro o último missionário, a igreja evangélica brasileira possui o seguinte perfil:

 

Teologicamente é conservadora e fundamentalista, no conceito de missão é reducionista, no direcionamento político é direitista, no comprometimento social é alienada, na sua identidade cultural é refratária.

 

Consoante o Pr. Carlos Queiroz, a igreja brasileira também tem se distanciado da sua verdadeira missão no âmbito social e para ser mais especifico ela tem se esquecido do seu compromisso com os pobres. Nesta perspectiva ele lista alguns destes fatores que sorrateiramente tem contribuído para tamanho afastamento, são eles:

 

Mantemos atitudes egoístas e cômodas; sacralizamos a riqueza e profanamos o pobre; utilizamos mecanismos de seleção por exclusão; dicotomizamos devoção versus responsabilidade social; trocamos os desafios das boas novas do reino de Deus pela ameaçadora “evangelização pé-na-cova”; usamos uma escatologia escapista e alienante; temos uma visão distorcida da criação da queda e da redenção; reduzimos a proclamação comunitária a um apelo individualista.

 

Apresentei até aqui muitos descaminhos da nossa igreja, mas agora tentarei apresentar sugestivamente alguns caminhos segundo a nossa divisa bíblica:

 

I- Assumir uma postura radical, notoriamente inconformada com os valores desta época;

 

O texto diz não vos conformeis, ou seja, não permitam que esta época, este sistema, modele a vida de vocês. Conformados, são aqueles que se deixam manipular, formatar, domesticar pelos valores desta época.

 

João, o Batista e Daniel. Exemplos de que o avesso é o lado certo. Quem quer caminhar com Cristo deve andar na contramão do sistema. João a semelhança de Daniel não se contamina com os manjares do Rei.  Precisamos de Jovens com compromisso radical e espiritualidade total. Você deve influenciar e não ser influenciado. Você deve contagiar os demais com a ética do evangelho.

 

Ser radical não é ser vândalo, pelo contrario é ir às raízes das coisas. Num mundo onde reina a superficialidade nas relações humanas etc, precisamos de Jovens com um compromisso profundo com Deus.

 

Nesta perspectiva é apropriado citar uma bela frase de F. Nietzsche:

 

“Verdadeiro eu chamo aquele que entra nos desertos vazios de deuses… Nas areias amarelas queimadas de sol, sedento, ele vê as ilhas cheias de fontes, onde coisas vivas descansam debaixo de árvores. Não obstante, a sua sede não o convence a tornar-se como um destes, habitantes do conforto, pois onde há oásis aí também se encontram os ídolos”.

 

II- Uma revolução mental, Isto é, nossa racionalidade rendida à proposta exuberante e inigualável do evangelho.

 

ü Não estou falando de ideologias (capitalista, marxista, nacionalista, neoliberal, a última por sinal, a imperante neste momento no mundo); mas de nossa racionalidade rendida, encantada, fascinada e comprometida com a ética do evangelho de Cristo;

 

ü  A palavra grega traduzida por transformação, é (metamorfouste), ou seja, metamorfose. Metamorfose é transformação. Ser mudado a semelhança e a imagem de outrem, neste caso, a imagem de Deus revelado em Cristo. Cristo é o EXEMPLO de filho ideal que Deus quer.

 

ü Ter a mente transformada, é ter modo de pensar e agir diferentes. (NOÓS)

 

ü Transformação também está ligada à idéia de conversão. Conversão (não é entrar no evangelho-igreja, mas acontece quando o evangelho de Jesus, entra em mim) é decorrência lógica de um fascínio. Conversão, a Cristo, é assimilação, é aceitação do projeto de Deus para a humanidade.

 

ü  Não podemos tomar a forma desta época (exterior), mas devemos a todo o momento ser transformados interiormente pelo Senhor. Temos que abrir as nossas vidas para que a graça de Deus a encharque, a inunde.

 

ü Em co 3:18 encontramos respaldo para nossa assertiva anterior: “Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo espírito do Senhor”.

 

ü “Precisamos contemplar o mundo com olhos de profeta, pensar o mundo com mente de filosofo e senti-lo com coração de poeta”. A idéia do texto é a seguinte: Em lugar de ficarmos satisfeitos, permitindo a si próprio, ser marcado e remodelado pelos valores desta época, devemos agora, através da mudança do nosso entendimento manifestar indícios e sinais da ordem futura de Deus, aquela ordem que já chegou no Cristo.

 

III- Postura radical (intrinsecamente comprometida com o evangelho) e mente transformada experimentam a vontade plena de Deus.

 

ü A nossa inconformação com a realidade circulante é a prova incontestável de que já estamos experimentando a vontade de Deus.

 

ü Para que…a preposição grega (trás a idéia de resultado, finalidade, propósito). A vontade de Deus é decorrência lógica de uma vida inconformada e transformada.

 

Neste aioni não podemos perder o Kairos de Deus (Oportunidade, momento imperdível)!

Fonte:http://www.ibjequiezinho.com/site/2009/08/06/o-desafio-de-ser-cristao-numa-cultura-evangelica-alienadora/